Corrida ao Ouro no Uíge: Riqueza Rápida Gera Conflitos, Destruição Ambiental e Abandono das Escolas
Corrida ao Ouro no Uíge: Riqueza Rápida Gera Conflitos, Destruição Ambiental e Abandono das Escolas
A província do Uíge vive uma autêntica corrida ao ouro, marcada por conflitos entre garimpeiros, autoridades locais e comunidades rurais, que denunciam a destruição das suas zonas agrícolas devido ao impacto ambiental das escavações e do uso de produtos químicos.
De acordo com informações apuradas pelo Novo Jornal, a exploração — em grande parte ilegal — está a transformar o cenário económico e social da região. Muitos agricultores têm abandonado o campo para se dedicar ao garimpo, considerado mais lucrativo e menos desgastante.
Nos municípios do Negage, Ambuíla, Songo e Vista Alegre, vastas áreas destinadas à produção de alimentos estão agora ocupadas por exploradores de ouro, o que ameaça a segurança alimentar e a subsistência de milhares de famílias. No mercado informal, o grama de ouro é vendido a 125 mil kwanzas, tornando-se um forte atrativo económico.
Segundo os próprios garimpeiros, as zonas de Songo e Ambuíla são as mais rentáveis, com ganhos que podem ultrapassar 20 milhões de kwanzas em menos de duas semanas, dependendo da sorte na extração. Para garantir o acesso ao metal, muitos aliciam proprietários de fazendas, oferecendo valores elevados em troca da exploração, mesmo com os riscos ambientais e sociais envolvidos.
A actividade tem ainda um impacto preocupante no abandono escolar, já que muitos adolescentes e jovens trocam os livros pelas minas, seduzidos pela promessa de dinheiro fácil. O Governo Provincial do Uíge mostrou-se alarmado com o fenómeno, apelando à intervenção das autoridades tradicionais, religiosas e encarregados de educação para devolver os estudantes às escolas.
O governador provincial classificou a situação como “gritante”, alertando para as consequências ecológicas e sociais caso não sejam tomadas medidas urgentes. Também defendeu um reforço no controlo fronteiriço ao longo dos mais de 400 quilómetros que separam o Uíge da República Democrática do Congo (RDC), já que a actividade ilegal tem atraído cidadãos estrangeiros.
Além dos danos ambientais, as autoridades sanitárias alertam para o risco de epidemias de cólera nas zonas de garimpo, num momento em que o Uíge já registou mais de 700 casos da doença apenas em Outubro de 2025.
A Polícia Nacional também intensificou as ações de controlo, preocupada com o contrabando, imigração ilegal e o envolvimento de menores.
Entretanto, garimpeiros expulsos de determinadas áreas acusam figuras influentes, incluindo altos oficiais e governantes, de participarem directamente na exploração ilegal — uma denúncia que aumenta a tensão e expõe a complexa teia de interesses por trás da “febre do ouro” que assola o Uíge.
📍 BL NEWS – Informação em Tempo Real

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