Karam Indústria Limitada sob acusação de exploração extrema, mortes silenciadas e corrupção institucional
Karam Indústria Limitada sob acusação de exploração extrema, mortes silenciadas e corrupção institucional
No mês passado, pelo menos dois trabalhadores angolanos morreram enquanto exerciam as suas funções na empresa Karam Indústria Limitada, localizada no Pólo Industrial de Viana. A informação foi avançada ao Repórter Angola por uma fonte interna que denunciou um cenário de abuso laboral extremo, violação sistemática da lei e conivência de entidades públicas.
Segundo o relato, a empresa tem vindo a remunerar a maior parte da sua mão de obra exclusivamente em dinheiro, sem contratos formais, evitando assim o pagamento de impostos e contribuições sociais ao INSS. Cerca de 80% dos trabalhadores angolanos não possui qualquer vínculo contratual, mesmo após mais de cinco anos de serviço. Sem férias, sem protecção social, sem direitos. Apenas trabalho diário, incluindo feriados nacionais e datas simbólicas — como o Dia da Independência — sob ameaça de despedimento imediato, mesmo em caso de doença.
Expatriados favorecidos, angolanos descartáveis
A fonte denuncia ainda que funcionários angolanos são tratados como “mão de obra descartável”, enquanto grande parte dos expatriados que ocupa cargos de chefia não possui vistos de trabalho válidos, actuando de forma irregular perante a legislação migratória. O mais grave: a manutenção destes trabalhadores estaria a ser facilitada por alegados esquemas de corrupção envolvendo inspectores da Inspecção-Geral do Trabalho (IGT) e agentes do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME).
As equipas de fiscalização visitariam regularmente o local apenas para recolher pagamentos ilícitos, num ciclo que se repetiria trimestralmente, garantindo à empresa um funcionamento “acima da lei”, segundo descreveu o denunciante.
Mortes ocultadas em pleno horário de trabalho
Entre as denúncias mais chocantes está a ocultação de acidentes de trabalho fatais. Dois trabalhadores terão morrido no mesmo dia, e, apesar da gravidade, a produção não foi interrompida. O Serviço de Investigação Criminal (SIC) recolheu os corpos, mas o caso não foi comunicado às autoridades superiores, alegadamente após pagamentos feitos pela direcção da empresa para silenciar o episódio.
Exportação irregular de cobre levanta suspeitas
Há ainda suspeitas relacionadas à exportação de cobre nu com destino a Dubai, África do Sul, Estados Unidos e Brasil, operações que, segundo relatos, ocorrem sem controlo alfandegário eficaz. A ausência de fiscalização levanta dúvidas sobre a legalidade do processo e sobre o papel dos órgãos responsáveis.
Apelo urgente das vítimas
A fonte alerta para a necessidade de uma intervenção imediata das autoridades competentes, lembrando que “muitas famílias dependem destes empregos, mas vivem sob condições desumanas, ilegais e perigosas”. Apesar de várias denúncias já terem sido apresentadas ao longo dos anos, nenhuma resultou em acções concretas, devido à alegada teia de corrupção que impede qualquer investigação séria.
A BL NEWS continuará a acompanhar este caso e a recolher mais informações junto das autoridades e trabalhadores, comprometida em dar voz às vítimas e promover a transparência em defesa da cidadania e da justiça social.

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