“Não se justifica usar dinheiro público para um jogo”, alerta Florindo Chivucute
“Não se justifica usar dinheiro público para um jogo”, alerta Florindo Chivucute
O debate sobre os gastos públicos volta a acender em Angola. Desta vez, o foco recai sobre a polémica partida Angola vs. Argentina, que está a custar, segundo a comunicação social, mais de 20 milhões de dólares ao Estado. Para Florindo Chivucute, diretor da organização de direitos humanos Friends of Angola, este é um gasto incompreensível numa fase em que o país enfrenta problemas sociais graves.
Recém-chegado de Berlim, onde marcou presença no World Liberty Congress, encontro mundial contra a cleptocracia e autoritarismo, Chivucute trouxe ao centro do debate temas como corrupção, presos políticos, fome, crise social e o adiamento das autárquicas. O ativista angolano defende que o país vive um momento crítico e que o jogo de sexta-feira não conseguirá desviar a atenção da população.
Eleições de 2027 e “democracia em risco”
No Parlamento alemão, o responsável expôs preocupações sobre a falta de transparência nos processos eleitorais angolanos, sublinhando que o país se aproxima de 2027 com “sinais perigosos de retrocesso democrático”.
Segundo Chivucute, o aumento das detenções arbitrárias e o agravamento das restrições às liberdades individuais mostram que a situação política exige mais vigilância, tanto interna como externa.
“Há famílias sem água, educação e medicamentos”
Sobre o polémico encontro de futebol, Florindo foi direto ao ponto:
> “Não estamos contra o jogo, estamos contra os gastos avultados com dinheiro público. É inadmissível investir milhões quando milhares de famílias vivem sem água potável, sem medicamentos e com crianças fora da escola.”
O ativista lembra que, nos últimos dez anos, os angolanos têm enfrentado um aumento contínuo da pobreza e que muitos estudantes abandonaram o ensino primário por falta de recursos.
O estádio cheio não apaga a miséria
Quanto ao facto de o estádio ter lotação prevista para o jogo, Chivucute descarta a possibilidade de “alienação temporária”:
> “Ninguém esquece a fome por 90 minutos. Esta é uma tática comum em regimes autoritários: usar o futebol para distrair. Mas os angolanos voltarão para as suas casas sem água e para os seus filhos sem escola.”
Segundo ele, diversas igrejas, partidos políticos e cidadãos têm manifestado descontentamento perante aquilo que consideram um gasto desnecessário e insensível.
A visita simultânea do Presidente da Alemanha a Angola também foi tema de crítica. Para Florindo Chivucute, o silêncio europeu sobre direitos humanos é “preocupante e contraditório”:
> “É lamentável que democracia e direitos humanos não tenham sido parte da agenda. As democracias precisam unir-se, mas essa união não pode ser apenas económica.”
A polémica partida Angola vs. Argentina abre mais um capítulo no debate sobre prioridades nacionais. Enquanto o governo investe milhões em um evento desportivo de alto nível, organizações como a Friends of Angola questionam se este é realmente o momento certo.
Para Chivucute, a resposta virá das urnas em 2027, quando o povo angolano decidir se continua a aceitar ou não a gestão atual dos recursos públicos.

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